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ALMANAQUE DO FLUMINENSE

Histórico das eleições presidenciais do Fluminense – Parte 2.

Updated: Oct 26, 2022


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Alegando estar ocupado com muitos afazeres, Francis Walter não compareceu à assembleia de dezembro de 1908, o que não impediu que ele fosse aclamado, por proposta de vários sócios, Presidente Honorário do clube. Para substituí-lo foi eleito o corretor de fundos públicos pernambucano Antônio Vaz de Carvalho, que há dois anos vinha exercendo o cargo de vice-presidente. Nessa mesma reunião foi rejeitada a proposta de transformar os fundadores do clube em sócios remidos, bem como outras homenagens sugeridas como a cunhagem de medalhas, a fixação de um quadro com seus nomes na sede ou mesmo a confecção de diplomas. O principal deles, Oscar Cox, inclusive, teve sua eleição para primeiro secretário questionada, por estar supostamente com suas mensalidades atrasadas, conforme relatório da tesouraria afixado na “pedra”, como era chamado o quadro de avisos do clube. Sinal de que ninguém estava acima do Fluminense. Mas o cobrador do clube confirmou que Oscar já havia resolvido suas pendências e podia sim assumir o cargo para o qual fora eleito. Vaz de Carvalho seria reeleito para um novo mandato no ano seguinte numa eleição marcada por um fato curioso: tanto ele como o vice, Victor Etchegaray, não compareceram à eleição que os reelegeram, fato inédito na história do clube!

Um outro pernambucano também chamado Antônio, o advogado e fazendeiro Cavalcanti de Albuquerque – Cavalcanti com “i”, como ele mesmo gostava de frisar -, foi a bola da vez em 1910, eleito com 39 votos. Realizada em 19 de dezembro, essa foi a eleição que elegeu o adolescente Alberto Borgerth, com 40 votos, para membro do ground committee. Resultado que teria consequências enormes na história do Tricolor. Foi também nessa assembleia que os fundadores do clube, aqueles que ainda eram sócios, foram enfim aclamados beneméritos.

Embora fossem sócios desde 1902 e Guilherme tivesse sido vice-presidente em 1904, 1905 e 1906, a saga dos irmãos Guinle no Fluminense começa de fato em 8 de janeiro de 1912, quando Carlos foi eleito presidente. O primeiro dos três Guinle que presidiriam o clube e que juntos venceriam 13 eleições e acumulariam quase 20 anos de mandato, transformando o Fluminense na potência esportiva que é hoje. Como em 1911, houve um empate, na escolha de um dos membros do ground committee, desta vez entre Mário Rocha e Gilbert Hime. Mas ao contrário do ano anterior, foi realizado um desempate, e Mário Rocha venceu, por 10 votos à 6, sem que houvesse maiores repercussões. Por que essa eleição foi realizada em janeiro e não em dezembro com era de praxe, não se sabe, mas não é inverossímil supor que a crise de 1911 tenha adiado o processo interno de nomeação de um novo presidente. O vice-presidente Victor Etchegaray renunciaria em maio, sendo substituído por Álvaro de Souza Macedo.



O sucessor de Carlos foi seu irmão mais velho, Guilherme, eleito em 23 dezembro de 1912 em um sufrágio em que não compareceu. Em julho do ano seguinte ele renunciaria ao cargo, o primeiro de dez presidentes do Fluminense que não completariam os seus mandatos. O motivo de sua renúncia não é mencionado em ata, muito menos em jornais da época, mas não é difícil imaginar que seus diversos negócios, ele era afinal o filho de Eduardo Guinle com maior tino comercial, tenham-no impedido de dedicar mais tempo ao Fluminense.

Antigo ponta-esquerda do clube, e o vice-presidente corrente, Félix Frias tornou-se em agosto de 1913, o sétimo presidente do Tricolor, eleito para completar os quatro meses e meio que faltavam do mandato de Guilherme Guinle. O curioso é que com sua eleição, ficou vago o cargo de vice, algo que não foi imediatamente notado, tornando-se necessário, portanto, a realização de uma nova assembleia, cinco dias depois, para a eleição do vice. O argentino Victor Etchegaray sendo o eventual escolhido.

Em dezembro de 1913, Carlos Guinle, agora benemérito, tornou-se o primeiro presidente do Fluminense eleito para dois mandatos não consecutivos. Mandato esse que não terminaria, pois seguindo os passos do irmão, também renunciaria – e mais uma vez sem que tenha sido possível esclarecer os motivos -, pouco mais de três meses após ter sido eleito. Sua sucessão – e a do vice, que também renunciara -, deveria se dar na assembleia convocada para 3 de abril de 1914, mas como àquela altura ele apenas declarara sua intenção de demissão, mas não a formalizara, apenas o vice pode ser eleito nesse dia, o corretor de mercadorias Joaquim da Cunha Freire Sobrinho sendo o escolhido com minguados 11 votos para preencher o cargo.

O cearense Cunha Freire foi vice-presidente do Fluminense por apenas 13 dias, pois no dia 16 ascendia à presidência, eleito para concluir o mandato de Carlos Guinle com apenas 14 votos, menos de 3% do universo de eleitores do clube, sem dúvida a eleição menos participativa da história do Tricolor. Esse aparente desinteresse nos destinos do Fluminense não mais se repetiria, tanto que em dezembro Cunha Freire foi reeleito com 89 votos, número seis vezes maior que o do sufrágio anterior.



Não houve eleições em dezembro de 1915, pois nesse mesmo mês os estatutos do clube foram modificados, ficando estabelecido que as eleições de diretoria não mais seriam realizadas na segunda quinzena de dezembro e sim na primeira quinzena de janeiro. Outra alteração importante, embora mais no aspecto conceitual, foi de nomenclatura, o ground committee passando a ser chamado de “comissão de esportes”.

As grandes transformações porque passou o Fluminense em 1915 foram suficientes para reeleger Cunha Freire para um terceiro mandato, na primeira eleição centenária da história do clube. De fato as realizações de sua gestão foram tantas, que ele foi elevado à sócio benemérito em pleno exercício do cargo, distinção normalmente dada aos presidentes do clube apenas após o cumprimento de suas administrações.

Essa mesma assembleia, realizada em 14 de janeiro de 1916, que reelegeu Cunha Freire pela segunda vez e o fez benemérito, tem importância histórica para o Tricolor, pois foi a primeira presidida por Arnaldo Guinle. Até então vivendo quase sempre afastado do Rio, o futuro patrono do Tricolor começava a frequentar o Fluminense com maior assiduidade, e em breve assumiria um protagonismo que mudaria os destinos do clube.

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