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ALMANAQUE DO FLUMINENSE

Pênalti não é coisa que se perca.

Updated: Oct 24, 2022


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Dia desses eu li um tratado, baseado em leis e conceitos da Física, explicando como é impossível um batedor competente perder um pênalti, pois se o atleta aplicar um chute razoavelmente forte (em torno de 80km/h de velocidade ecalar média) em um dos cantos do goleiro, a bola levaria 0,52 segundos para ultrapassar a linha do gol, que é menor que o tempo de reação (em torno de 0,6 segundos) que uma pessoa normal leva para reagir a um estímulo visual. É claro que na prática o goleiro pode se adiantar e se perceber em qual canto o batedor ira chutar, pular frações de segundo antes da bola por-se em movimento, mas mesmo assim ainda teria que mover a mão com velocidade inexequível para defender o pênalti. A velha máxima do jornalista e cartunista Otelo Caçador de que “pênalti não é coisa que se perca” é portanto quase que um axioma da Física.

O centroavante Henrique Dourado do Fluminense parece ter sido um ótimo aluno na escola, pois notabilizou-se esse ano como excelente cobrador de pênaltis. De fato, ele simplesmente converteu os dez que bateu, o que já faz muito tricolor considerá-lo o maior cobrador de pênaltis da história do Fluminense. Mas essa afirmação é verdadeira? Ele é de fato o mais eficiente de todos? Como ele se compara a outros grandes batedores da história do clube como Leomir, Ézio e Fred por exemplo?

Para responder essas perguntas, recorri ao meu banco de dados, gerando uma lista com todos os pênaltis cobrados na historia do clube. Num primeiro momento eu pensei em ordenar os batedores dessas penalidades por eficiência, porém Dourado não é o único a jamais ter perdido um pênalti pelo Fluminense, o volante Jean por exemplo também nunca perdeu um, embora só tenha cobrado três penalidades. Edmundo (4), Ramon (3) e Rafael Sóbis (2) são outros, só para citar alguns dos mais recentes. Fica portanto difícil compará-los com Dourado, que cobrou muito mais penalidades e merece estar a frente de todos eles. Resolvi então ordenar a lista em ordem decrescente de pênaltis convertidos, que me parece ser um critério mais justo. Segue então a relação com os maiores cobradores de pênaltis da história do Flu, com a ressalva que eu deixei de fora cobranças em disputas de pênalti, me limitando a computar pênaltis convertidos durante os 90 minutos (ou 120 se for o caso).



Com 33 pênaltis convertidos em 44 tentados, o atacante Fred lidera a lista com alguma folga. Terceiro maior artilheiro da história do clube, ninguém cobrou tantas penalidades com a camisa tricolor quanto ele. Seu aproveitamento (75%) é o menor entre os cinco maiores cobradores. Por três vezes ele converteu dois pênaltis numa mesma partida: contra o Bangu em 2010, o Bahia em 2012 e o Corinthians na goleada de 5 a 2 pelo Campeonato Brasileiro de 2014. Sua melhor série foi entre novembro de 2011 e março de 2013 quando ele acumulou dez pênalidades convertidas sucessivas. Seguiu-se à ela uma sequência de quatro pênaltis perdidos, seu pior momento. Outra curiosidade é que um em cada cinco (19%) dos seus gols pelo Fluminense foram originados em cobranças de pênalti. Sua técnica consistia em correr em direção à bola dando uma paradinha (muitas vezes uma paradona), esperando o goleiro decidir-se por um lado, antes de efetuar o chute. Cobrador oficial em todos os seus anos de Fluminense, Fred, vivendo atualmente má fase, perdeu esse status no Atlético Mineiro, seu atual clube, para o lateral Fábio Santos.



O zagueiro Pinheiro vem em seguida com 28 pênaltis convertidos em 34 tentados, o que dá um aproveitamento de 82%. É claro que esse percentual pode cair se considerarmos que muitos amistosos do Flu no interior do Brasil e mesmo no exterior nos anos 1950 não eram resenhados, e portanto, eventuais pênaltis perdidos não eram sequer mencionados. Cobrador oficial do clube a partir de 1955, Pinheiro costumava dizer que “escolhia um canto e mandava a bomba, quase sempre de bico para não dar tempo do goleiro se mexer.” Seu pênalti mais famoso provavelmente é o marcado na final do estadual de 1960 contra o América, que entretanto não foi suficiente para impedir a derrota e a perda do título. Já o mais lamentado foi o que perdeu num Fla-Flu de 1956 quando mandou a bola na trave. Pinheiro marcou 49 gols pelo Tricolor, mais da metade deles, portanto, da marca da cal.



O terceiro membro ilustre dessa lista é o meia Leomir, atual auxiliar técnico do treinador Abel. Com um aproveitamento similar ao de Fred (76%), Leomir converteu 23 dos 30 pênaltis que cobrou. Em seus anos de Fluminense (1983-1988) o paranaense foi o cobrador oficial da equipe e embora nenhum de seus pênaltis tenha decidido títulos, os nove que marcou em sequência entre julho de 1983 e julho de 1985 contribuiram para a conquista de um Campeonato Brasileiro e dois estaduais. Jogador versátil, capaz de atuar com a mesma eficiência em diferentes posições, Leomir tinha todo um ritual que invariavelmente seguia em todas as suas cobranças, olhando fixamente para a bola enquanto aguardava o apito do juiz, correndo sem pressa e chutando à meia força, sempre colocado, procurando tirar a bola do alcance do goleiro. Dos 32 gols que marcou com a camisa do Fluminense, apenas nove não foram originados em cobranças de pênaltis.



O quarto maior cobrador de pênaltis da história do Fluminense foi o centroavante Ézio, o Super-Ézio, que infelizmente já não está mais entré nós. O popular capixaba era simplesmente mortal da marca da cal, o que pode ser comprovado pelos seus números: 22 pênaltis convertidos e apenas três perdidos. Uma eficiência de 88%. A maior entre os cinco maiores cobradores do Flu. O atacante, que tinha fama de gostar de marcar gols contra o Flamengo, converteu as quatro penalidades que teve oportunidade de bater contra o rubro-negro. De junho de 1992 à março de 1993, Ézio engrenou uma série de 12 pênaltis convertidos sucessivos, igualando Marinho Chagas como a maior sequência de um jogador na história do Tricolor. Recorde que o centroavante Henrique Dourado está a apenas três de superar.



Fecha a lista dos cinco principais cobradores de pênaltis da história do Fluminense, o saudoso ponta-esquerda Zezé, que converteu 19 e perdeu apenas quatro das penalidades que bateu. Rápido, habilidoso, driblador, Zezé faz parte de um seleto grupo de pontas-esquerda goleadores que fizeram história no Tricolor. São membros desse grupo craques do calibre de Hércules, Escurinho, Lula, Rodrigues e Carreiro.



Como pode ser visto na lista acima, Henrique Dourado ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser se tornar, pelo menos em números absolutos, o maior cobrador de pênaltis da história do Fluminense. Classificado em 16o. lugar no momento, ao lado de Didi, o camisa 9 é entretanto, com seus 100% de aproveitamento, o mais eficiente de todos os jogadores dessa lista. Melhor cobrador de pênaltis do atual futebol brasileiro, seu cem por cento de acertos está muito acima da média do Campeonato Brasileiro, que é de 65%. O paulista de Guarulhos desenvolveu um estilo próprio de cobrança, retardando ao máximo a batida enquanto corre em direção à bola e jamais tirando os olhos do goleiro. Esperando um sinal, um gesto corporal ou mesmo uma caída precoce para um dos lados, antes de escolher o canto e tirar a bola do alcance do goleiro. Aí é só correr para a torcida, fazendo a sua já tradicional comemoração de ceifador, passando a mão num movimento horizontal na frente do pescoço.

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